A Ponte Adamantina

(dedicado a Paul Kilb)

de Gregory J. Markopoulos

(publicado em Film Culture, n.º 53, 54, 55, Primavera 1972)

No princípio a questão foi colocada por Eros: “Terá o Mundo ultrapassado a Idade da Arte?” E Prometeu foi agrilhoado com laços adamantinos. Os pássaros pararam de cantar, e as Maçãs Douradas do Jardim das Hespérides murcharam. E fez-se silêncio em todo o Universo. E desse silêncio irrompeu o grito daquele que faz filmes: “Então porque é que ela é esquecida?!”

A primeira memória que tenho de uma inspiração para Prometeu remonta aos poucos anos em que frequentei a Universidade da Califórnia do Sul, como estudante de cinema (por ser). Não tinha certeza das potencialidades da imagem; ou do significado e da importância do termo avant-garde que pairava pelo ar no calor da Califórnia. Acho que não sei mais hoje do que sabia então, quando mexi pela primeira vez numa câmara de filmar, comprada pelos meus pais, a meu pedido insistente, por trinta e cinco dólares numa joalharia local, em Toledo no Ohio; já não sei quantos meses demorei a pagar as prestações de alguns cêntimos por semana. Com o acordo do meu pai e a hesitação da minha mãe. Não seria melhor se eu fosse médico ou advogado?!

Concebi o primeiro guião de Prometeu Agrilhoado na Universidade da Califórnia do Sul, e levei-o comigo para Toledo, no Ohio, durante umas férias de Verão, onde mandei encaderná-lo num cabedal azul sumptuoso, impresso em grandes letras douradas. O texto foi cuidadosamente dactilografado, de forma muito elaborada; cada página tinha nada mais nada menos do que 50 por 50 cm. Na realidade, agora que escrevo o primeiro esboço deste texto, lembro-me que dactilografei a versão final em Toledo, numa máquina de escrever alugada, capaz de carregar enormes folhas de papel que tinha comprado e que imaginava essenciais para conceber o filme! Cada página assinalava a largura máxima das lentes, o número do plano, da acção e outras informações posteriores dactilografadas cuidadosamente; em colunas.

Inspirado pela peça de Ésquilo, imitei-a, mantendo ao mesmo tempo uma referência às minhas primeiras viagens longe da minha terra, isto é, pela Califórnia, conferindo um tom surrealista ao guião, hoje talvez risível. O guião começava com Prometeu a ser agrilhoado; mais concretamente com ele a ser arrastado ao longo de uma estrada poeirenta pela Força e por Vulcano. Esta sequência, musical no uso das lentes, foi inspirada (mas não concretizada) por um filme que vi no dormitório de Curtis Harrington, então estudante de cinema na USC. O filme chamava-se Renaissance. Tinha uma bela sequência em que uma jovem mulher caminhava uma curta distância e se apercebia da presença de um rapaz a caminhar a mesma extensão, mas de passagem, na direcção oposta; ao longo da qual Curtis Harrington cortava para trás e para a frente do modo mais elegante possível. Do mesmo modo, os meus olhos enamoraram-se pela visão da cor; e a partir daí foi cor para sempre!